Meu primeiro contato com as montanhas da Serra do Mar foi no ano de 1982 quando minha família se mudou de Paranaguá para a estação de Eng. Lange em Morretes.
Nessa época eu estava com 5 anos.No início a vida era monótona, mas com o passar do tempo fomos se acostumando com aquela tranquilidade que as montanhas nos dava à cada amanhecer, nos finais de semana havia movimento dos excurcionistas que vinham pelo Itupava ou de trem rumo as Prainhas.Meu pai fazia todos os dias o caminho até o Marumbi onde trabalhava na ferrovia.Passei à fazer o mesmo trajeto em 1985 quando entrei na escola que funcionava no andar superior da estação.No ano seguinte se mudamos para o Marumba,onde o movimente era dobrado por ser o ponto de partida para as escaladas do conjunto.Minha época preferida era o verão por estar de férias e ter mais tempo de explorar as trilhas com os colegas e meu irmão,íamos pro Rochedinho, Cachoeira dos marumbinistas, Cemitério dos grampos e tantos outros locais mais leves já que com nossa idade não podíamos arriscar um pico maior,faziamos loucuras como se dependurar na pedra Lascada usando cordas de nylon que tiravamos do vagões e emendávamos um padaço no outro,subíamos a cabeceira da ponte do Rio Taquaral só com as mãos até sermos dedurados pela nossa vizinha a Dona Furtuosa,tivemos que aturar o sermão de nossa mãe.Nosso grande companheiro era o ´´FUMAÇA ``,nosso cão que sempre estava ao nosso lado até quando fomos fazer a trilha noroeste,infelizmente um farofeiro otário chegou lá em casa e se abrigou na área com sua corja à espera do trem nisso Fumaça veio como sempre deitar no cantinho dormir,quando esse indivíduo foi mexer com ele,por se tratar de um estranho ele avançou e rasgou a calça do cara que veio cobrando explicação pelo fato do cão estar solto, falando que tinhamos que dar um jeito na situação e tal pedindo carteira de vacinação sendo que nem foi mordido.Nisso chegou o passageiro onde embarcou dizendo que aquilo não ia ficar assim.Passou uma semana descemos para visitar a vovó em Alexandra em Paranaguá,na volta nos deparamos com o Fumaça agonizando,achamos que havia sido mordido por alguma cobra,meu pai deu leite tentou fazer com que melhorasse,anoiteceu fomos dormir, na manhã seguinte fomos para a escola,esperando que nosso maior companheiro de caminhada se recuperasse,mas os esforços foram em vão; não eram 11 horas quando vi pelo vitrô da escola meu pai levando-o para enterrar, desse dia em diante criei uma certa antipatia por esses seres que se acham amantes da natureza, mas se esquecem de respeitar o espaço alheio.Mas tarde ficamos sabendo através do falecido Seo Humberto de Eng. Lange que no dia em que não estavamos em casa,chegou dois caras de moto dizendo que iríam resolver um assunto pendente no Marumbi.Juntando tudo isso me levou à conclusão que foi o talzinho que teve o prazer de vir de Curitiba só pra dar fim no cachorro.Atualmente quando vou pro Marumba e Passo naquele primeiro lance rochoso da trilha vermelha não deixo de relembrar do dia em que o vellho Fumaça subiu com sua maestria de sempre.Descance em paz amigo; que conviveu pouco momentos conosco,mas que sempre será lembrado a cada conquista e a cada nascer do sol no alto de nossas serranias.
A primeira vez que fiz o Itupava até o Cadeado foi massa demais, pois a trilha na década de 1980 era pouco usada comparando com o movimento de hoje,havia trechos em que a vegetação cobria o caminho,e não havia essas facilidades de hoje.Em 1990 passei 2 dias na estação de Banhado na casa da Dona Romilda que era nossa vizinha no Marumbi ,Aproveitamos a oportunidade para conhecer a famosa Casa do Ipiranga na época cuidada por um colega do meu pai o Claudio,a casa ainda tinha móveis até uma cadeira de balanço que muitos diziam que balançava sozinha,havia a roda d`água e tudo mais.Na estação havia um posto da guarda florestal, assim como no Marumbi.Diferente de hoje,um total descaso com o patrimônio histórico que ainda resta.Meu falecido vô (Domingos Constantino)foi o primeiro ferroviário da família,meu pai e meus tios seguiram a tradição e gosto pelos trens.Na década de 1960 meu vô morava em Banhado em uma daquelas casas próximas da Casa do Ipiranga no lado esquerdo de quem desce a serra,nessa época meu pai era piazote.Pena que dessa passagem pelo local a família não tenha fotos,mas ficam as velhas lembranças.
Nem tudo foi maravilhoso na serra quando lá moramos,teve a morte daquele japonês no Esfinge no final dos anos 80,que mobilizou o corpo de bombeiros na retirada do corpo, que desceram num saco preto,teve aquele jovem que sofreu um queda na Crista do Gigante e só foi encontrado quase uma semana depois, inclusive com a ajuda dos montanhistas que melhor conhecian o local.Deixando esses assuntos morbídos de lado,em 1989 no verão quase todo o pessoal do marumbi fizeram o percurso Marumbi - Morretes à pé,pelas Prainhas e Reta do Porto,retornamos com o passageiro no final da tarde.Em 1991 e 1992 morei com minha avó para estudar já que o ensino no marumba ia até a 4 série.nos feriados e férias retornava matar saudades e rever essa grande paixão que dura até hoje 27 anos depois.Nossa passagem pelo berço do montanhismo brasileiro terminou em março de 1993,quando eu e meu irmão Josenildo Constantino subimos o ABROLHOS em comemoração desses 11 anos que vivemos e convivemos na nossa Serra do Mar.
Olá Jurandir!
ResponderExcluirBelo relato, bela história de vida! E que sacanagem com o Fumaça... Infelizmente temos que conviver com esses "espíritos de porco" na serra.
Grande abraço!
Obrigado Getúlio,pois é, essa minha passagem pelo Marumbi foi a melhor época de minha vida,dai nasceu o gosto pelo montanhismo que dura até hoje.Forte abraço!!!
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